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As infecções que começam na boca podem causar sérios problemas de saúde. Em casos mais graves, podem se espalhar para outros órgãos, como pulmão, coração e cérebro, e levar à morte. O problema pode surgir durante um tratamento, mas existem casos em que a proliferação de bactérias malignas acontece por conta de feridas não tratadas, predisposição genética, má higiene e tabagismo.
Alguns casos recentes se tornaram públicos, como o da modelo Renata Banhara, que foi internada depois que uma bactéria se alojou em um de seus dentes durante um tratamento de canal e se espalhou, chegando ao cérebro. Muitas vezes a inflamação vem acompanhada de dor, pus e febre, o que ajuda a deixar o paciente alerta. Mas, no caso da modelo, a infecção foi silenciosa. E é aí que ela exige ainda mais atenção.
Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma ida ao dentista pelo menos uma vez por ano, pesquisas do IBGE e do Ministério da Saúde apontam que mais de metade da população brasileira não faz isso. Além da questão da estética do sorriso, é nesse acompanhamento que o paciente descobre a presença de bactérias que podem ser perigosas.
Adiar tratamentos odontológicos pode deixar o paciente mais propício a desenvolver esse tipo de infecção, especialmente nas crianças e nos idosos, que possuem as defesas do organismo mais frágeis. Esse também é o caso de pacientes com imunidade reduzida por conta de doenças, como câncer.
Envolvidos com o tratamento de grave problema de saúde, raramente eles cuidam da higiene bucal. Para se ter uma ideia, estatísticas da Anvisa apontam que 33% dos pacientes de UTI que desenvolvem infecção evoluem para óbito. Se for sancionada, a lei representa uma vitória para pacientes e toda a classe médica.
A inserção do cirurgião-dentista na equipe hospitalar faz parte de uma proposta multidisciplinar fundamental ao tratamento adequado ao paciente. Além de evitar problemas graves, como é o caso das infecções, pneumonia e endocardite bacteriana, esse profissional contribui para o restabelecimento da condição clínica e para a melhora da qualidade de vida do paciente.
A Odontologia Hospitalar é uma área promissora. Alguns hospitais já oferecem esse tipo de tratamento e os índices revelam inúmeros benefícios, como redução no tempo de internação, melhora no quadro clínico e diminuição de gastos com antibióticos.
Algumas iniciativas já tentaram obrigar hospitais públicos e particulares de médio e grande porte do país a oferecerem assistência odontológica aos pacientes internados nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Algumas medidas chegavam a contemplar também os pacientes em regime de internação hospitalar e portadores de doenças crônicas. A última das propostas, porém, infelizmente foi vetada recentemente pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro. O Ministério da Saúde alega que a lei promoveria forte impacto financeiro aos cofres públicos.
Infelizmente, ainda é preciso conscientizar a classe médica e os gestores hospitalares sobre a importância do dentista dentro das UTIs. O assunto é discutido há pelo menos 10 anos por parlamentares, órgãos de saúde e conselhos de classe. Mas ainda são poucas as unidades que contam com esse atendimento que é tão fundamental à recuperação completa do paciente.
Márcia Gabriella Barros é mestre em Saúde Pública e doutora em Radiologia Odontológica